quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Dormindo na ruína

Parece que o ar é maciço ao ponto de ser palpável, enquanto Lia chora a memória que sente falta unicamente de ti.
Tudo produz som; as fotografias escalam cada canto da casa. Escuta palmas vindas de trás das janelas grosseiramente enormes, da casa negra e amadeirada. O relógio engraçadinho da mesa, ora anda ora para. A passagem do tempo é fragmentada - deseja regressar dez meses.
Já? Questiona-se. Ele correu e os joelhos cansaram-se logo.
Embora o universo seja o mesmo, canta todos os dias uma ruína intraduzível, aguardando o dia em que não haverá ninguém para produzi-la ou conduzi-la.
Atravessa crises constantes e fluorescentes de adrenalina, tropeçando em atração explosiva por outra pessoa, sendo fatalmente envolvida no nada que também produz ilusões. Pobre apaixonada, a definhar.
Frequenta aquele seu bar preferido, sentindo-se uma centopeia abrindo túneis, atravessando um dos corredores com luzes vermelhas - apelidando-o de "corredor da paranoia". Passa por ela um cheiro forte de cigarro - sente novamente o gosto dele na boca.
É uma extremista irracional.
Será que é conseguir mover-se pela libido, a tal felicidade que as pessoas sentem? Sem estar deprimido o suficiente para suprimi-la? Sinal se saúde, sendo a libido boa a libido extrema e todo o resto libido deprimida?
É tarde, três fumaças fundem-se no clarão amarelo do abajur: incenso, chá quente, erva - ferozmente acomodada. Arranca cada pedacinho do rímel dos cílios, para segurar o término de mais um dia - acolhida nas paredes da casa pintadas de um cinza necrotério.

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