sábado, 26 de maio de 2012

Exílio parte 33

Despejas fel em tuas palavras, sabendo que a distância é por si azeda. Se precisas da minha confiança, preciso superar traumas e o mínimo é que grites a quem quer que esteja por perto teu amor.
Invento uma maneira de ligar. Ainda preocupo-me em saber notícias. Mas nenhum ambiente é propício para  atender-me. Antes de prosseguir, preciso constatar que aqui a única a querer estar entrelaçada sou Eu - não há mais divagações a serem feitas.
E a noite fora longa.. Angústia implacável! Dardos cravados ao longo do corpo que, doloridos, deixaram-me a agonizar. Rolo os olhos pelo quarto agora  e ainda não sinto-te.... Pedira em silêncio que não acabasses com nosso amor nesse lapso de tempo: que não destruísses tua única verdade. Atravessara em claro a noite em que  a fera adormecida tivera espaço para despertar. Tanto prazer, gozos de vida vazia. 
Que sou? Minha alegria e completude é incessantemente ESCALDADA.


quinta-feira, 24 de maio de 2012

Exílio parte 32

Sem empecilhos, queria dar-te meus afagos! Tocar tua mão - sempre tão quentinha! Em qualquer lugar, que seja a pior sarjeta! E todas as relações coadjuvantes, que estapeiem-se! Não entrarei em disputas familiares sem procedentes. 
O nosso amor a gente glorifica!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Melancholia

Acomodada no estado apático da melancolia. Anos passam e o rosto é marcado com ferro em brasa - nada ganha-se ou permanece além de cicatrizes. Tanta angústia, exaustiva! Como cabe em mim, não sei. Nenhum lugar ou pessoa alguma parece ter segurança: existência temerária. Caio em crises de pranto ao tentar explicar o quanto é insuportável habitar minha alma, e quanto mais em conjunto com o corpo físico defasado. Não respondo pelos comportamentos incompreensíveis que envenenam o amor, que causam irritação profunda-  és afinal um ser humano normal ao sentir-se farto! Não sei o que sou, além de desregrada, batendo desesperadamente as pernas e braços para não se afogar. Tenho dificuldades para andar, como se "emaranhados enormes de lã cinza amarassem-me as pernas", e penso que seria bom adotar centenas de gatos para brincar com os novelos e assim, ao menos, ser fonte de alguma felicidade para alguém.
Não controlo para onde escorre o excesso de melancolia.... Temo por destruir o sentimento de quem mais quero bem. És otimista e cada vez menos mínimo: o que alguém como eu pode acrescentar? Melancholia é meu planeta e sou dele; o corpo definha sob seu claro ciano. Branco nu banhado de sua luz fúnebre. Sem jogar conversa fora, sem abrir minha caixa de pensamentos tomada pela DESORDEM.

Conselho

Irracionalidade! Decifrando imagens sem nitidez.
Níveis extremos de trauma
Espiã na luz baixa dos bares.
Métrica para seguir feixes de olhares, visão meticulosa de ambientes.
Analista de gestos, cientista do ciúme. Amedrontada da mentira!
Torna-se egoísta e psicopata do amor: comete o crime de furtar vidas.
Não acabes por destruir a paixão dele por ti,
Amiga!

Ao não analisar gestos e falas, corre-se riscos. Mas ao analisá-los, perde-se muito mais:  intensidade de viver... 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Exílio parte 31

Viagens são oportunidades em todos os sentidos. Distancia física e distração mental. Faces distintas, peles ardendo, tesão pulsando, e aquela que te espera nos lençóis - falecendo. Vais despedaçar meu coração novamente, mais e mais, tanto faz. Ouço tua voz e choro pela leviandade e desprezo infinito. Ausência.

sábado, 12 de maio de 2012

Penúria

Fora-se. Mais uma vez. Acordara com desejo de caminhar? NãoNão despertas com vontade alguma, a não ser aquela que arrasta-te para longe: a de estar só. Tardes ensoladas de outono, fugaz ausência? Não. Não andamos nas ruas diurnas. Não mais assistimos o sol cair. Apenas a noite reinar.
E ela não arrasta-me com a facilidade com que te suga. Fico a te decepar conforme as horas passam - não há como se esconder dos laços extra-corpóreos que nos unem. Não descanso: reviro-me na cama quando a insônia é de origem ainda desconhecida; sentimentos ruins vindo a ser desvendados logo. Em teu trabalho noturno sacias tua vontade de entorpecer-te - passeias no colo de outras mulheres. 
É muita falta, insuficiência. Escassez e deficiência. Para os seguidos "Eu te amo" soarem limpos na claridade do dia...



domingo, 6 de maio de 2012

Ressentimentos

                       No ântro da famosa decadência,  local de tantas faces e lembranças ainda degustadas com vingança, Lia esperava com o vento gélido rachando a pele do rosto. Metia as mãos por entre as pernas cruzadas, vestidas de preto. Na cadeira vermelha de plástico, observara que o bar ainda estaria longe do auge de seu movimento - as pessoas possuem o imaturo costume de sair de casa as onze horas. Sentira preocupações desnecessárias, quisera fugir do pânico das paredes fechadas, dos familiares adquiridos: buscara somente a companhia de quem a deixasse livre e haveria apenas um pequeno grupo, seletíssimo, em que não precisaria dizer absolutamente nada, não haveriam medidas a serem tomadas: brancas de neve e preto, amigas suficientes e confidentes.
                           Em cerca de meia-hora, o habitual surgira: o que vira eram pessoas frágeis e incompreendidas. Felicidades forjadas, carências sendo expelidas pelos póros. Chegara, loira alta e de rosto bolachudo, uma jovem mulher sinônimo de futilidade e síntese da pior falta de escrúpulos. Ora, Lia imaginara-se debatendo-se com aquele ser tantas vezes! Impressionara-se com a leviandade do olhar da garota e resolvera manter oculta as farpas do passado - ela deveria ter esquecido. Pedira para sentar-se à mesa, visto que não havia com quem desenrolar sua língua no momento. De bom grado, Lia lhe estendera a mão em gesto de "acomode-se" e virando um uísque barato inciara sua conversa.
                         Citara-nos seus dois anos de casamento, cintara-nos seus planos fantásticos para o agora e depois. Expectativas ditas com o calor de quem não superara um término de relação e precisa doar glórias à qualquer indigente, fantasiando que seu ex-parceiro venha a saber seu êxito. Maneira de falar que enoja - já dissera que em resumo ela fora e é o oposto de nossa protagonista? Lia admite descontar o todo moribundo em uma quase unânime figura, de Afrodite de faceta mundana, de caráter mesquinho, baseada  no sexo. Volúvel.
                        No ápice, referira-se a uma antiga história ocultando nomes e não haveria como a espectadora conter-se. Cabe ressaltar que deixara durante toda a cena o copo de vinho entrelaçado pela mão direita, anelada de prata... Também tem seus momentos de birra feito adolescente! Porém já era de se esperar que de sua figura não exalasse nada mais do que tentativas de humildade nos gestos. Melhor guardar as palavras ásperas para si: passar reflexões como lixa na pele rosada de alemã não traria contentamento. Então apenas dissera-lhe: "Não haveria problema algum em dizer o nome da tua companhia da noite em questão, ficou com medo?"
                     Nada mais vira do que alguém pobre de espírito, aspirante a artista justificando para quase desconhecidos suas falsas virtudes. Fora para sua "balada" tão esperada, da mesma maneira que surgira há uma hora atrás. Lia ainda sente-se reduzida, mas bem sabes que descontar em velhas e escrachadas figuras não faz sentido algum.
                     Por fim, esquecera a carteira de cigarros ainda cheia na mesa para fazer-lhes companhia.

Exílio parte 30

O homem impregnara sua firmeza, pondo uma mão sua em cada braço dela segurando-a, robusto, perto do ombro - com força a sacudir-lhe o corpo, tamanho ardor das palavras que eram ditas.
 E naquele momento e antes, todo o peso do mundo atormentara-a. No entanto, lá estava ela, sugada por algum tipo de energia recíproca(...).
Passado o tempo, às vezes pensa se essa afirmação teria tomado forma se não houvessem os fatos seguintes.  De sua angústia tornara-se mulher: e vê-se nos braços confusos de emoção, voltar a derramar lágrimas como menina. Criança com marcas corpóreas de surras - com espírito tomado de odor nauseabundo.
Aqueles olhos feitos de um preto tão profundo, de sua memória não desapareceram.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

                        Ao nos abraçarmos o mundo é apagado. Unidos por laços profundos e diariamente enriquecidos somos um só. Nas noites de solidão, desejo o singelo ato da tua respiração ao meu lado.