quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Exílio parte 15

Queria sumir por um tempo necessário. Não para sentirem minha falta e para os esquecidos lembrarem-se. Somente por que estou em conflito e delírio.
Minha inspiração não mudou, embora nos últimos tempos tenha provado diversas sensações, algumas até tentando ludibriar-me para acreditar que existe algum resquício de paixão em mim - e mesmo que deixasse-me enganar, a dor das velhas quedas despertariam-me da ilusória crença. Eis que, não há como sumir tendo uma senhora rotina esperando-te na manhã seguinte. Nenhum dos meus afazeres - além do ballet - conectam-se comigo. Não é novidade que tudo recai sobre o fictício mundo em que vivo, e sendo assim, em anonimato seria melhor permanecer, mas nem mesmo padecer de suas dores internas é permitido.
De alguma maneira puxam-te para a "vida" e estou exausta dessa gangorra obsessiva  Pois bem, o que é "seguir em frente?" Não parece-me nada muito além de trilhar e manter uma sucessão de coisas com o propósito de alimentar-se e proteger-se da chuva. Obrigações para sobrevivência, pessoas robotizadas.
Meus desejos são tão pequenos... cabem nas patinhas de Syd!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Lúcia e o espelho

O quarto ainda cheira à perfume feminino e doce - embora confunda-se agora com o simples odor de creme removedor de maquiagem. Fica um cheiro enjoativo na pele que enoja-a. Dois sabores diferentes para o olfato, dois extremos de humor que jamais separam-se e sempre seguem-se.
Lúcia sentia vontade de transformar sua tarde tediosa em algo proveitoso, só dependia de si mesma. Pensou, como se súbito: vou ao cinema. Empolgou-se procurando os filmes em cartaz, ah! Era tudo para acabar bem o dia lento! Assim que decidiu-se, lembrou do dinheiro para o ingresso: ora! Essas coisas deveriam ser de graça! Reclamou. Havia na casa vários "pontos" de moedas escondidas ou locais onde provavelmente alguém as esqueceria. Lúcia era só entusiasmo e logo partiria para a melhor parte da preparação: a conversa com o espelho.
Esse momento de confissão com o próprio reflexo é decisiva. Ele tem o poder de intensificar o êxtase ou reduzi-lo a zero. Primeiro os cabelos, que mereciam um belo topete ensaiado à dias e vagarosamente aperfeiçoado. Pensou em não dar muita atenção para a pintura do rosto, afinal, era só uma ida ao cinema, mas logo o resultado satisfatório do cabelo a fez mudar de ideia  Risco preto nos olhos verdes e bastante rouge nas maçãs do rosto. Para concluir, o velho batom rosa claro.
O rosto pode ser um problema para a mulher, mas nada comparado com o corpo. A roupa era rotineira, daquelas que não exige muito das formas. Mas ele estava lá, implacável: o espelho atirava-lhe flechas e novamente isso se repetia - incansável e severo.
Subiu pela garganta o pânico de a calça ficar apertada. Será pela lavagem recente? Iludiu-se. Logo começou a análise detalhada, até mesmo os braços finos e delicados estavam mais cheios. Lúcia tinha paixão pelos ossinhos do peito e dos ombros, os olhos afogavam-se em lágrimas ao imaginar-se sem eles atenuados. O que passou-se já não importava mais... O classicismo era ditado assim.
Arrancou as roupas e pôs-se a vestir o pijama largo, que dava a impressão de magreza. Ele não era "um" espelho, nem vários- espelho é sempre O espelho. Maldito objeto condenado à revelar a realidade! Tão mais saudável viver enganada.
Com alguns pedaços de algodão tirou a maquiagem, e cá estamos em como iniciou-se esse relato. Precisa sair do quarto, abrir a janela e porta, quem sabe tudo é levado pela corrente de ar...

Divagações...


A bailarina anceia por despertar seu extremo perverso: que seja vingativo, que seja sedutor, e tudo o mais em nome da perfeição. Renuncia aos prazeres, à mão que toca o espaço e não o corpo para o êxito clássico, e muitas vezes inalcançável - além de simplórias sensações.
A bailarina traga incredulidades, submete a gula de alguns à mera fantasia- pois toda obsessão beira ao imaginativo.
Sensual com os pés terminados em carne e sangue...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Em espera


"Estão atrasados. O tempo está em inércia. Depois das quatro, qualquer hora pode ser demorada - assim como pode vir já.
Arrepio congelante que abre o peito e tenta ser liberado em um suspiro. Tentativa frustada de calmaria.
''Que gelo'', ouço-a desabafar para mim. Sinto como se fosse dito de dentro do coração''

23/01/011
Para Amanda.

Exílio parte 14

Um dia quente de feriado que confundi com domingo no mínimo três vezes. Hoje resolvi ficar em casa, relaxar. Gostaria de lembrar dessa palavra sem que outra viesse á cabeça : pensar. Mas existe como, mesmo que por um dia, deixar tudo em branco? ou ao menos em cinza?
Então a pessoa resolve se ocupar o máximo possível e se sobrecarregar propositalmente. Ao ponto de vista prático, no momento não tenho com o que me preocupar a ponto de ter um colapso nervoso, mas o arrumo. Somo filas de pensamentos, multiplico problemas para agravá-los, e nessa matemática a única coisa que esqueço de fazer é dividir as angústias. Cortar o mal pela raíz.
Gosto do embrião dos conflitos. Crio por eles um afeto obscuro, como um prazer masoquista. E no final... não passo de uma romântica ingênua. Escrevo o que sinto para entender-me, comparar-me, encontrar-me. Sinto o que escrevo pois minha vida é fantasiosa, meu eu e as histórias são um só ser perdido.
Por que todos esses questionamentos? Simples : não deve-se inventar feriados em quartas-feiras. Um dia de preguiça, inútil, já que só dão-se à esse deleite os que descansam bem. Os atordoados, como ficam?
3/01/01

Flagrante

Despertei ansiando que a noite chegue com um sorriso inevitável no rosto.
Quando caio em si, lá está ele, abrindo os lábios de leve e fazendo o olhar perder-se em algum ponto fixo, que muda conforme os dentes vão se mostrando - viaja para o teto em um suspiro. E aí pego-me em flagrante.
A primeira reação é a de boicote, prisão. Mando o sorriso ser encarcerado lá no fundo. Frustro-me quando percebo que ele consegue subir pelas paredes do buraco profundo com uma facilidade incrível. Será possível que todos aqueles poços não foram suficientes para barrá-lo? Eis a mudança... Ele possui algum tipo de armamento para qual não precavi-me, e agora estou vulnerável ao inimigo prazeroso e bandido: a paixão.
22/01/011