quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sequestro

Caminharam juntos, cada um para seu rumo, abrindo sutilmente em pequenos feixes a vontade de seguirem juntos. Algazarra cósmica, mal-aventurada e dissimulada, a persegui-los juntamente com a lua cheia - holofote - que imperara naquela noite, sem importar-se com a separação que houvera na esquina onde divergiam os caminhos. 
O que Lia desejara fazer, no íntimo? 
Quisera encerrar-se numa concha, onde tua voz reverberasse - de ressaca - em todo seu ser ressabiado. Esculpiram na argila sem precisar escutar som algum: como escultor que não escuta, erguendo-se na beleza do erro. A desconcertara com feições de menino, sequestrando o vagão de carga de seus pensamentos ligeiros e contínuos (...)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Exílio parte 43

O teu anjo é uma figura delirante, dia após dia na subida e descida oscilando: negativo - positivo.
Que tontura o castiga! Não sabe ser tantos ao mesmo tempo, passa a inventar parábolas quase crísticas  em soluções anômicas, para segurar as extremidades...

Disfarce

Moçoilo, deixa gaiato ser adjetivo e não sinônimo!
Aguardo-te no saguão do cruzamento, enquanto tocas o caminho por onde passas - sovando  as paredes com a ponta dos dedos de borracha.
Moçoilo, queres deslizar de gaiato
desejando a rampa de beijos roubados - 
amando a pista de decolagem?
Não há, moçoilo
o tão inebriante quando pairar, rumando para a terra da rainha, em coroação no ar.
Vá ver tua amada! Gaiato contido 
- lá é teu paraíso!

Frigidez

Esfrego uma mão noutra, pesadamente em deslizante aperto -
em mais novo não-intencionado acasalamento.
Odor em vapor cutâneo, deixando-me em sensível refresco natural:
hortelã, gengibre, capim de limoeiro.

O sol revelando a sujeira do aposento que chamo de meu,
pó, cabelos - na capsula de viagem no tempo
Visto também nu, como quando nasceu.

Mar de lençol verde, erguendo inúmeras duplas rosadas -
insaciáveis e macias,
em ode que o toque comprova: não há elixir para ser degustado.
Secura de indiferença, no silencioso atracionário.

terça-feira, 16 de abril de 2013

O destino

Nenhuma dádiva é concedida para quem não é merecedor. Porém, se não souber administrá-la - do ser ela é tirada.
Armas para a evolução, rumando para o retrocesso - falta de gratidão imensa!
Não há sustentação. É solidão medíocre certa.
Brincando com a sincronicidade!
Dissolver o que é nada é a única maneira, para o infeliz que vai desmoronando em sua caminhada...
Extinções de engrossar a alma.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Meu holofote é a lua.
E entre mim e ela
trocentas ostentações
ornamentadas.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Brecha no cotidiano

Quando trabalho estressada e apavorando-me com o ritmo do incansável relógio, o onírico cerca-me, ronda-me, impõe sua presença e  nunca permito-me fugir. A chuva cai do nada, avassaladora em seu choque com as telhas do pavilhão acima da minha sala-aquário, onde o céu treme e torna-se carrancudo - cerrando o sol em uma urna temporária.
Chegara então um senhor até mim, explicando cada detalhe da sua vida ao longo de 71 anos. Netos, filhas, mulheres- uma delas juíza. Resido - jazendo com o astro rei - em frente a uma rua submissa em minha concepção de detalhes - deixei-a passar e este senhor, no último grau de rouquidão de voz, transmutou por completo a paisagem desgastada que eu até ontem enxergara.
"Fazem 44 anos... Casei nesta rua. Lembro-me deste prédio, há quantos anos existe? Era uma sexta-feira, chovia muito, meus amigos diziam que era o choro das minhas namoradas."
22/03/013

Pólvora invernal

Acreditara que o frio abraçaria-me pelas costas, de mãos leves e gélidas.
Surpreendi-me então com sua hospitalidade, dando boas vindas maledicentes a bordo de uma chamada telefônica sem jeito, inexperiente.
O dia de resgatar os blusões chegara! 
Roupeiro maciço, corpo magricela quente, bochechas coradas de aquecimento alinhavado.  
Esvazio teu cheiro no armário:
é chalé de invernadas bidimensionais -
no compartimento isolado.

Suéteres etéreos.