sábado, 28 de novembro de 2015

Quando me visito, o que há de branco que faz os olhos flutuarem desespera por economia - por exílio na Tebaida, sem saber se é nas quatro paredes manchadas pelo mofo em que habito.
Algo me impele para o outro lado. Sobretudo o excesso de claridade do verão, em que tudo é desfixo. A possível luz que vem das vitrines está noutro porto - aquele do outro lado do mar. E tempestuosa é a travessia, como se ela se movesse e eu não me mexesse.
Ouço o caminhar de cada criatura que divide comigo as noites e os dias ao redor do pequeno barco. Deixo-os, mesmo quando quieta, continuarem a me acalmar. Isso nunca havia acontecido. 
A organização do quartinho é à deriva. É necessário movimentar-se muito - alguns peixes difíceis tem olhos grandes e redondos, mas as cabeças parecem se ajustar - observo. Já por mim, é muito intempestuoso reclinar a cabeça na madeira macia. A mulher pensativa não pode dirigir-se a janela sem chorar um misto de saudades da vizinhança e exigências do amor. É possível apenas um abraço de anseio.
Parece-me o auge não enxergar o fundo da pequena baía em que me encontro. Penso em arrastar no lodo inicial, todo o sangue que guardo comigo e instruo-me a não dar importância - ao remar com o bambu encontrado ainda na margem. 
Espero livrar-me do típico caráter de atribuir a travessia a uma tampa, como se lembrasse que abaixo dela estão as constantes reconciliações vitais consigo mesmo, cozinhando.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Calcar a terra, pressionar-pisar-apertar, desprazer-oprimir o começo é o final de tudo, incha e desincha
queima a cana plantada nos rostos brasileiros. A pedra limpa a chapa queimada... 
onde foi cozido o material alojado.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Exílio parte 51

Quando algo aproximou-se saindo da opacidade, mais lento que nós próprios, por assim dizer, o espelho não acreditava naquilo e sonolento como é, não repetia o que dizíamos a sua frente. Ele fica na sala arredondada inesgotável, com espíritos circulares dispondo de tempo e memória.
Comeram todos os cartões de visitas, comeram minha dor de cabeça, comeram tudo onde grafei meu nome. Restaram algumas carícias afetadas no primeiro estágio elétrico do sono, observações atrás da cavidade ocular que conectam-se aos campos do inaudível: persigo minha verdade emocionada oculta no frágil biombo do despertar de sensações. “A misteriosa fraqueza no rosto dos homens”, lembro de Sartre.
Na minha volta, natimorte dos desejos. O que pergunto-vos? As mesmas palavras. O que sabem a mais? A informação de controlar uma ação. Não tenho parâmetros (bola igual quadrado vezes x é a própria saia, que fez-se ouvir um murmúrio, brado de suas pregas, num roçar de sortilégios) para medir a falta de separação dos gestos jogados no mesmo saco. Não acesso teu padrão; finges que és estruturado? O jogador da manhã é diferente do amante noturno. Acompanho teus movimentos natatórios em que sou sequestrada - te dissipas - e não passas ao lado das 399 camas (de um modo geral, a morte individual não é algo tão bem feito, mas isso também não importa. Quem ainda dá alguma coisa pela morte bem acabada?).
Reclamo comigo mesma, que meço distinções às cegas.
Espere, sobre o perecer do conhecimento - que é prurido.
Apareça, apenas para a saciedade do perfume.
( Os melancólicos sorriem como dançarinas ao terminar as piruetas à maneira dos ursos enjaulados.)