segunda-feira, 6 de maio de 2013

Choramínguas

Enrosco os cabelos na rede de pesca. Não obstante, sou capturada com anzol.
De gancho fincado no miúdo lábio inferior, afundo debilitada - não trazendo à superfície belas histórias prosaicas.
Sem opção, bebo a água em que estou envolta. Líquido mentiroso e peçonhento; tremo de um frio de espécie não catalogada - fico como réptil contorcendo-me
Envenenada.

Tão minguante quando a lua desta noite. Coberta pelas mínguas assíduas - ausente de tudo que pode ser significante.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Por detrás da porta

Lia suspira profundamente: o coração está em bateção de válvulas, clamando pela companhia e insubstituível presença. O dia nasce através do janelão aberto; pede em sigiloso sentimento que as sensações que percorrem seu corpo exausto, agarrem-te e tragam-te para fora do sono em que te encontras.
Na sala de estar alheia a solidão impera, medo não sente. O vazio domina na mais maldosa índole: deixa na borda do fosso alguém permanecer, atrapalhando e ameaçando a imperatriz da ausência. A esta hora, o observador está debruçado na boca do buraco - acolchoado em sua cama.
Não há como sentir plenitude ou felicidade, a angústia prorroga-se como em passe de mágica e somente suas esperanças são milagres impossíveis. Condescendente, Lia ri com o canto da boca para não chorar por ser ignorada por todas as entidades.
Roga para que abras a porta e tenham as mãos acopladas. Nega, em trovoadas, aquela que lhe é estendida, sem cansar de terminar a jornada em frente a mesma porta chaveada. Deseja estar em teu cômodo!
Ouve o tic-tac do relógio pensando ser o zumbido de abelhas e, em confusão, sem bússola  desliza até a frente do teu quarto. Equilibrando-se na ponta dos pés ergue o braço de punho fechado. Exita três vezes tocar a madeira branca; queria mesmo era ser fumaça para aproveitar as fendas. Finalmente o som que escuta são suas próprias batidas leves. Uma, duas, cravando então os dentes na maçaneta - despertas em pulo do engasgue que é teu sono.
Ele inclinara-se contra ela, com tom de piedade na voz de quem pede perdão pelo próprio egoísmo, mas nenhum remorso por negar o aconchego do seu aposento. 
Lia está em cacos - espalhados por diversas casas.

A leveza do ar

Lágrimas são a amputação da mesmice, lavando a lona com chuva na floresta virgem.
Integrara-me saltando de ponta para a luz, medindo forças com a treva.
Dentes-de-leão proliferam-se desenfreadamente no campo, querendo ser confundidas com alvo algodão.
Embrenhada na mata, tomara em mãos a flor selvagem, que suplicara ao pé do meu ouvido  para ser soprado -  pois cansara de ser cetro exibido.
Sopro mansinho, carícia de libertação!
Escorra, coração desvairado 
Contornando o que sentes por entre as pedras - trincado.
Imploro uma clemência,quiçá piedade 
polindo-te com a mais bruta flor.
Sem mais demora,
sucumbo-te no próprio amor.