domingo, 27 de novembro de 2011

Exílio parte 25


Viro o rosto para o lado direito, porque notas ressoaram para mim. Compassos, compassos, dissonâncias perdidas no tempo. Estou à mercê da inquietude; percebo que ficara as longas horas da noite materializada na lâmina de madeira que suporta os pedais. Guardada por inteiro, sou do comprimento do tapete de teclas... Ao descer o olhar sobre o severo instrumento, a música não pode ser encarada como fonte plena de alegria - a emoção causa-me tremores e lágrimas, emudeço com sentimentos desconexos.
Danço em um palco escorregadio... Temerário, estreito, deveras sedento!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Reflexo literal

Há momentos em que preferimos não ver a situação em que nos encontramos. Em períodos indescritívelmente penosos o coração fica dobrado, a mente torna-se a residência da anomia, do caos. O destino então segue seu curso, nos obrigando a refletir de qualquer maneira, usando de suas artimanhas.
Pela manhã, passara por mim na rua um vendedor de objetos usados, empurrando seu carrinho cheio de tralhas... E a maior delas: um imponente espelho. Refletira-me por cerca de dois segundos - o suficiente para abrir-me ao desespero de residir nessa triste figura! Não se pode abandonar o próprio reflexo por tanto tempo...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cama ocupada

Desgosto das relações humanas
fadadas ao gozo mundano.
Cultivadas na cama revestida de veludo
- opaco, tal como o clarão amarelo do abajur onde desfaço-me.
Solitária submeto-me a reflexões...
Minha arrogância é a frágil casca das fraquezas e, ao deitar-me nela,
torturas lá cometidas assolam o descanso
- penetram no físico, sonâmbulo.
Impossível o sono no leito desgastado!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Exílio parte 24 (Nó)

Na calada anestésica da noite, ando pelo quarto torcendo as mãos, inquieta. Já não sei se acomodo-me, luto - tenho forças para tal? Sinto-me em constante sonho acordada, sendo obrigada a interagir com o real. Gostaria e sinto, que a cólera que pousa sobre mim é do tipo que desconcerta até mesmo ilusórias suposições de outra forma de perdurar pela existência.
Retiro o vermelho manchado das mãos, logo paro e vejo a pele que, corroída em volta, não possui mais solução. Superfície que fora doce! As mãos são a irrefutável prova física do sofrimento que atravessa o tempo. Que não amanheça! A febre não terá fim.
Não funciono bem. O pouco torna-se intenso e o muito soa-me fraco. Não concluo nada: sou morte incansável. Não penso em culpados para, disfarçada, consolar-me - não projeto em terceiros e segundos o que é criação MINHA.
Oscilações loucas, vertigens! Minha percepção da volta é ditada por leões ferozes e é incrivelmente difícil aparecer (apodrecer) em público com o coração dilacerado! Há muito não escrevo um "algo" propriamente dito, mais do que nunca tornei-me, em suma, o "emaranhado de pensamentos". Taquicardias, alucinações de sensações... Deus, liberte-me de vez!