segunda-feira, 5 de julho de 2010

Jardim do refúgio

Ela deita na grama verde e plana: presenteia si mesma com tal prazer.
Estira a pequena existência - que anda e pode ser vista a olho nu - por entre tal tapete aveludado, como se ali a alma pudesse desapegar-se do físico mais facilmente, e planar junto à brisa de inverno.
Desliza a mão trêmula pela terra orvalhada, manchando-a com a fuligem branca que o molhado do chão tirou do seu esqueleto, já pálido e desmanchável como o giz.
Na companhia dos arbustos e pequenos pássaros é onde ela quer estar ; aperta a terra negra contra o peito : A paz encontrará na morada do jazigo perpétuo que breve estará, abaixo do verde.

domingo, 4 de julho de 2010

Echoes

(...)

"Um milhão de brilhantes anunciadores da manhã
E ninguém canta canções de ninar pra mim
E ninguém me faz fechar meus olhos
Então escancarro a janela
E te chamo através do céu."


Exílio parte 8


Não consigo escrever nada ultimamente que não seja um - denominado à tempos por mim mesma - "desabafo" . Tenho usado as palavras como calmante, distração, arma, não sei : Dê o nome que achar mais propício. Escrevendo aqui falo com meu interlocutor, imaginário, fruto da minha fuga da realidade.
Em noites como esta, trancafio todos os poros que possam servir de passagem para o desgaste mental que há além da porta do quarto. Deixo a música ao pé do ouvido, pois assim não ouço os sussurros solitários da doença dela - só eu sei o quanto são ensurdecedores, por mais lentos e cochichados que sejam : Ela não faz questão de que sejam perceptíveis só à ela mesma; parece ansiar pelo compartilhamento.
Então ouço Debussy e sua calmaria cheia de sonífero. O sentimento suave e de elevação da música até o céu falam por meu fatigado espírito. Diálogos do vento e do mar, faunos, canção para adormecer, neves que dançam, jardins... Uma lua que chora. É um pouco de mim. Ontem á noite ao fugir do plano intensamente, a música falou por mim, transmitindo
à todo instante o que eu gostaria de balbuciar e sentir, como em um filme mudo. Assim, comuniquei-me com minhas grandes amigas noite à dentro.
Bom, agora tudo parece mais calmo; chá doce e quente na xícara. Até ás lágrimas deram uma trégua. Mas o que acontecerá quando tentar dormir? Eu devo?
3/07/010