terça-feira, 9 de abril de 2013

Brecha no cotidiano

Quando trabalho estressada e apavorando-me com o ritmo do incansável relógio, o onírico cerca-me, ronda-me, impõe sua presença e  nunca permito-me fugir. A chuva cai do nada, avassaladora em seu choque com as telhas do pavilhão acima da minha sala-aquário, onde o céu treme e torna-se carrancudo - cerrando o sol em uma urna temporária.
Chegara então um senhor até mim, explicando cada detalhe da sua vida ao longo de 71 anos. Netos, filhas, mulheres- uma delas juíza. Resido - jazendo com o astro rei - em frente a uma rua submissa em minha concepção de detalhes - deixei-a passar e este senhor, no último grau de rouquidão de voz, transmutou por completo a paisagem desgastada que eu até ontem enxergara.
"Fazem 44 anos... Casei nesta rua. Lembro-me deste prédio, há quantos anos existe? Era uma sexta-feira, chovia muito, meus amigos diziam que era o choro das minhas namoradas."
22/03/013

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