segunda-feira, 6 de junho de 2011

Manhã

O caos está espalhado. Partindo de mim, junto comigo e enturmado com o redor.
Invisível à prole que, viçosa, apressa o ritmo das ruas do centro.
Na Rua da Praia a luz nunca chega. Ao nascer do dia então! A neblina úmida prolifera-se pelas lãs de quem atreve-se a desbravá-la, fazendo surgir - como por brotamento - gotículas molhadas no casaco grosso. São as águas do rio reclamando o território perdido.
Dou então vida à um dos meus passatempos preferidos. Durante grande parte da manhã, enquanto presa em uma cadeira desconfortável, invejo o dono(a) da varandinha alta e arredondada, na esquina. Assegurada por uma dúzia de ferros retorcidos que lembram flores murchas, penso que de lá Mário Quintana ouviria-me. Nunca vi pessoa alguma, sequer abrir aquelas portas emperradas. Como pode? Clareira, templo, lacrado.
Diante do meu infortúnio, abro a mesa redondinha de mógno e a cadeirinha trançada de vime, peço ao garçom chá de cidreira ( pois não possuo condições propícias a um bom café). Então do meio da alameda gigante observo minha sacadinha. Tiro do bolso uma metade de baseado e dou continuidade à ele - vai que esbarrem em mim e acabe de esfarelar-se.
Do meio da rua deixo-me levar pelo hábito e saio a vagar. Aqui estamos nós no começo do meu relato... quando desgrudo os olhos do chão para pousarem na placa de onde estou agora: Riachuelo. Não, não há como erguer a tampa do primeiro bueiro e incorporar-me ao esgoto, minha primeira solução tipicamente humana. Sempre esqueço de desconfiar do meu coração desprezível, acabando tudo da desgastada maneira corriqueira...
20/05/011

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