sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Psicose

Entre a pálpebra e a sobrancelha há um fosso profundo, cavidade perdida onde - em dias como hoje - por mais que o vento empurre a chuva contra a persiana, nada pode penetrar na janela da alma. Não possuo capacidade de administrar um corpo. Uma existência minha que acaba-se tão lentamente - consome-se em sua própria energia. A visão é brancassenta e irreal: os olhos doem e querem estar ao contrário, ir andar para o espaço escorregando como ácido corrosivo atravessando o corpo. Branco! Tudo branco como teu peito desanimado, inchado esverdeado. Não estou em pânico: as lágrimas não caem. A única chama que me consome é da caravana que passa chamando-me... Agonizo. Agonizo. Agonizo. A realidade é quem rompe comigo, chuva de espinhos.
Se encostares em mim, me sentirás como um balão cheio com farinha, com olhos de botão e cabelos de barbante, como os vendidos às crianças no picadeiro. Adormeça cérebro!
Desde que me deixastes, os dias passam sem meu consentimento. Não sei dizer quantas vezes já escrevi essa mesma frase. Agora a sanidade foi-se, a sucessão de dias não tem rumo. Esqueci que existem leis básicas de subsistência - não posso escalar as paredes do subterrâneo. A única visão que tenho é de minha órbita em colapso.

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