segunda-feira, 11 de abril de 2011

The reader


Não basta ser apenas leitor - é preciso ser interlocutor. Não permito ser violada sem as exímias imaginações devidas, pois leitores em busca de textos de simples sentimentos decodificados despencam aos montes.
Produzir algo interessante aos olhos alheios nunca foi uma preocupação que escolhi aderir, então deixei-me senti e varrer cada canto torturado pela poeira do meu interior com tinta ácida de caneta. Fazem parte dos diálogos corpos indigentes, fantasmas anônimos: é preciso conversar com alguém e o inexistente possui um carisma infalível e sedutor.
Eis que fiquei atônita frente à descoberta de um inimaginável leitor. Talvez aqui eu fique devendo a concretização do sorriso sincero que há tanto tempo não era-me incitado no rosto, mas não por falta de palavras: somente pela vontade de mantêr a atmosfera daquele concerto límpida, na lembrança de dois artistas.
Naquele momento decifrei a lápide de um dos meus corpos desconhecidos - surgiu refletindo em meus olhos alguém com quem converso e abro intimamente minha alma. Superficialmente concluo que a arte é o mecanismo chave para limpar as janelas embaçadas que separam cada universo particular.
Abandono a cerca farpada que envolve meu coração para a música circular soberana.
Artistas são interlocutores que às vezes, por mais que os inconscientes toquem-se, o abraço demora a vir.

Um comentário:

  1. A LUZ por trás das luzes.

    Só escrevemos e tocamos para nós mesmos, para o que nos agrada, o que nos atinge, e todo o resto é bônus. A arte é egoísta. Toda arte tem que ser para a pessoa que a cria, interpreta, se tentarmos fazer arte para os outros, não agradamos ninguém.
    O que parecia ser apenas mais um show normal em um bar comum evoluíram para uma condição de evento (inesperado). Estavam lá, assim como em muitos lugares, todas aquelas luzes que sempre ofuscam qualquer possibilidade de identificação da platéia.
    Sete notas e seus semi-tons, formam o universo da minha expressão, da “minha” arte, da arte devidamente apropriada. Tudo estava perfeito, cada nota, cada “bend”, cada compasso e cada MEU olhar. Lá estava ela, a LUZ por trás das luzes, brilhando (sem saber) além do ofuscante. Trazia comigo todo um repertório de sentimentos, atitudes e dores absorvidas em leitura que vieram sem uma ordem ou sequência de apresentação. Não se tratava de algo pragmático e preciso e sim de encontro metafísico, uma Revelação – a alma tornando-se palpável.
    Muito foi dito, muito ainda seria dito e quase nada precisava ser dito. Senti-me despido da minha armadura de cavaleiro Templário. Ela enxergou a minha alma, minhas víceras. Fiquei azul, a atmosfera tornára-se azul.
    O que significou para mim aquele link? em um mundo onde não escolhemos nem mais o andar no elevador em que vamos parar? onde temos identificações biométricas e uma rede de informações infinitas? Para mim a LUZ. Uma luz no fim no túnel é um fim, uma LUZ além das luzes, o começo de algo grandioso.
    O momento e o sempre se fundem e formam as lembranças.
    I’m “lost for words”.

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