domingo, 7 de novembro de 2010

Oceano

Mesmo um grande amor é condenado à afundar em um oceano profundo e frio, e como imenso que é, no vasto mar teve vida - suas proporções são comparáveis. O único bem precioso que então resta, é a lembrança dos dias em que vi meu rosto refletir no fundo dos olhos dele, dias em que me vi viva. O resto... As demais coisas não tem salva-vidas ou botes : são perdidas nas águas.
Seria tão bom se também perdesse meu corpo em meio aos tentáculos dela! Seria tão mais confortante! No gelo o tempo não consegue ser implacável, e minhas mãos jovens e brancas assim seriam para sempre - a carne de outrora estaria conservada como esse sentimento sem prazo algum. Na eternidade surgiu e lá permanecerá.
Muitas páginas pertencem às profundezas do meu espírito, que em certos êxtases de emoção sinto-o esvair-se, lutando para ir longe - para onde possa existir de si mesmo, da própria luz clara alimentar-se.
Adormeço no fundo do oceano, soterrada pelo peso da água, acariciada por suas mãos macias.
Aqui permaneço na companhia de belas janelas adornadas com vitrais coloridos, que à menor colisão da luz iluminam de azul meu cômodo. Não há como descansar com tal brilho de olhos oceânicos... Carrascos da degradação. Quando deito, a primeira metade minha assiste, todas as noites, a violenta morte da segunda, testemunhando-na e desejando fazer parte dela. Mas a agonia perdura e sua miserável vida clama por um fim. E como tem sido lento...
Pelos olhos dele morrerei. Nada reconstruirá o tecido corroído, os sonhos inundados, o diamante que pesa no fundo lamassento do mar.

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