domingo, 8 de agosto de 2010

Colcha de retalhos

Sinto-me o último desgraçado na fila para o céu ; sinto-me um mortal esquecido por Deus -até mesmo por ele, que como papai noel, dizem não esquecer de ninguém. De tanto ser reduzida, tornei-me poeira, mas não foi suficiente -em um lento e tortuoso processo fui refinada, refinada: Agora sou menos do que ninguém e mais leve, fina, insignificante e pequena do que um grão de poeira.
Nada mais acalma a angústia, que, como um câncer, hoje percebo que se alastrou devorando as partes ainda sadias. A cabeça dói como jamais antes doera: Será que a morte finalmente cansou-se de levar pessoas inteiras e lembrou-se de meu endereço? Ah! O destino é meu inimido invisível e intangível de todos os dias: Costumo dizer que ele gentilmente prega peças em mim.
Não descanço à dias, o sono é algo tão superficial que é quase controlável. Estou com a cara de zumbi habitual, em inércia. Preciso de força, ânimo! Porém as correntes prendem-me -ou será que não? Eu posso ser a própria corrente.
Quando darei mais um remendo no meu tapete e continuarei a andar, ainda que por alguns dias? Queria muito mostrar-lhe, caro papel, que bela colcha distinta é meu interior: São tantos buracos remendados com os mais diversos pedacinhos de tecido. Na verdade, ela já é assim por inteiro, e talvez agora seja possível imaginar as dimensões do sofrimento -uma alma inteira remendada com seus fios frágeis e paninhos podres. Cada fenda, requer tempo para ser costurada: Tempo, tristeza, angústia.
Rezo para que ela se desfaça e seus retalhos sejam espalhados pelo céu -acho que eles merecem uma morada melhor no fim de tudo, pelo esforço de manterem-se unidos.
31/07/2010

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