quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Afastando-se

O ar está pesado e denso demais para ser respirado. Nem mesmo as ondas sonoras chegam até aqui - o único e atormentador som existente é aquele que, há tanto tempo, ecoa dentro de mim.
Preciso escrever, talvez deixar uma mensagem para se, por ventura, algum dia encontrarem esse lugar. É estranho, pois estar aqui é estar esquecida até mesmo por Deus - as paredes parecem ter em sua memória a história do universo. Com seu silêncio petrificado observaram e resistiram anos à fio evolução à dentro. Agora estou aqui, e finalmente posso chamar algo de "meu" e somente "meu" : Minha caverna onde não há amanhecer nem crepúsculo, e não existe diferença entre manter os olhos abertos ou cerrados.
Minha, sim. Feita de rocha bruta, com seu aspecto macio ao tocá-la levemente com a ponta dos dedos. Estar aqui e conquistá-la é tudo o que obtive na minha caminhada em declive pelo mundo lá em cima, onde os dias passam um após o outro inevitavelmente  Arrisco traçar alguma palavra na parede à cego, mas minhas unhas são frágeis e não resistem ao atrito com a pedra : Minha mensagem, assim, será um montinho de ossos bem colocados, pois aqui não há vento algum - como disse no começo, só há um ar denso e irrespirável.
No escuro estou condenada a somente ver oque meus pensamentos querem e que a imaginação dá vida. Começo a achar que não morrerei sufocada ou de fome, e sim, de angústia - a nostalgia também mata. É um mal que, tamanha sua força, destrói a alma e o plano físico. Penso: Relaxe, a dor está no fim, e logo não sentirás os lábios sedentos dos beijos de outrora.

18/08/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário