domingo, 8 de maio de 2011

Na casa de Lia

Agora passada a noite, Lia questiona-se sobre a ilusão que vendara seus olhos na madrugada, onde deparara-se com uma miragem cinematográfica de diversão, idealizada pelo abismo que a separa dos demais jovens usuais: todos aqueles que rondam as ruas e enchem as casas de risadas celebrando a pele lisa e os hormônios em polvoroza.
Durante todo o dia que antecedera a noite fora assim. Enganara os próprios sentidos, logo que as verdades inquestionáveis que conhecia sobre si mesma apareciam e tomavam a ficção criada. Lia é consciênte da própria distinção, mas não conseguira impedir a vontade subconsciente de resgatar resquícios de uma juventude clichê - talvez proporcionar aos amigos momentos satisfatórios sem privações. O grande tormento é que em termos de minar o território em que vive, Lia é superior ao instinto caseiro de um gato.
Logo mais os convidados foram chegando e entre eles figuras anônimas para ela. O desconforto encaminhara-se com o zunir das vozes masculinas contra as paredes, os passos grossos, o sentimento de violação íntima! Aquilo tudo emprestado, nada nascera dela - além do irônico desejo de provar como é ser verde na idade em que encontra-se. Uma passada rápida de olhos e o vil e esverdeado mundo superficial onde reside a maioria é provado.
Teve âncias de libertar a raiva encarcerada, ligar as luzes, desligar a televisão - onde rodava um filme demasiado complexo para os indigentes - e correr todos dalí camuflada pela loucura febril. Mas como era de se esperar, Lia não escancarara seu rosto e varrera-os com sarcasmos não escolhidos à dedo. Os seres pensantes dentro de si implodiram-se, o sexto sentido lançara confetes ao céu. Que bela culpa de não tê-lo dado ouvidos agora Lia carrega!
Ficção. Barres carregados de amigos, cerveja e conversa são descômodos. Preguiça de travar aproximações, diálogos. Ócio para péssimas interpretações; conflitos consecutivos dos muitos personagens que cada parte do corpo criou para observadores atentos.
Ela retalha-se permanecendo homogênea.
No dia seguinte arruinara os planos e "descartara" a rotina para apreciar um dia de ócio comum e completa:
- Na próxima vez, continuarei somente com o ócio permanente mental. Ócio físico não significa ócio criativo, que de costume agrada-me demais! Não fujo do tédio para evitar o enfrentamento com a existência e não perturbar-me. Tudo é pouco, tudo é pequeno, demasiado fraco(...)

Um comentário:

  1. prima, tu escreves muito bem, tu consegue passar uma verdade nas tuas palavras que toca nosso coração.
    lindo prima,
    saudades,
    te amo

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