quarta-feira, 14 de outubro de 2015

I
Exalo um punho de recordações, vindas do intemperismo da madeira
em uma sala muito lustrosa e nada insípida.
Revirara o mundo dos sonhos, suara o corpo em transparência etérea.
Cada qual criando o próprio tempo de perceber
O cansaço, a maciez e o fardo -
e como se a dor fosse um pedaço de pão endurecido, maldizer isso à teus perigos.
Em olhar difuso, repousara comprimindo o que ao amor antigo pertence
Embalando afoita o que envolve a face do outro - como uma manta de sangue empapando minha vida.

II
A falta é a febre interna
O esguio, o lânguido, o todo -
é o retorno do amor isolado.
Há inflamação das glândulas, tentando acalmar e construir o acalento ao coração desesperado de apego.
Há o costume da conspiração: de abismar os olhos e beber do vinho mais seco, em refúgio que vem rindo e blasfemando, perto dos violinos tensos que alçam voos ao redor de nós.
Há o sincero e recíproco dia, valvulado e lotado de reverbes que pairam sobre as mesas impessoais.
Há a roupa larga que comprime o peito,  emudece os sentidos e pisca a faísca no ouvido:
a ansiedade é a mãe de todas as cóleras.

III
Penso em tua mão para impressioná-lo, trazer paz através do esguio em que tu te moves e na dança arruaceira em que vais
Não é o que dizem que nos machucará mais
Isso é sobre nós quando não pensamos em outra pessoa.
Todos um só peito inflamado,
precisando saber que não somos uma só consciência.


IV
Batidas contrapõem-se ao submundo que habitamos:
não despenques na modéstia da alegoria excessiva!
Os algarismos básicos de um a dez nunca mudam -
múltiplos plurais dos mesmos e eternos números.
Que sejam ausentes os assovios cansativos, que descem a rua em amputação

de um tempo já irreal.

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