quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

No leito de hospital

Sirenes de emergência soam mais tristes do que alarmistas. Anunciam que nada é eterno, à medida que arrastam-te pelos corredores brancos. Ouço-a já do leito.
Meus olhos são reflexão, espelho d'água, abraços de adeus. Para estação de chegada não servem, são demasiado frios e não convidam - repelem. Tremo de idéias vagas, partidas e tonturas.
Ainda na cama, bocejo respirando o ar fresco das tardes de outrora, agradáveis e encharcadas de violeta, feitas de cores maleáveis - pintadas de ciano. No quarto, há espaço somente para o ruído, de leve, do ventilador - que dizias ser relaxante - ressoando como aqueles pássaros, fazendo-me acreditar que meu colchão é de grama e a memória presente.
Música de fato, não consigo escutar. As vozes alheias e o som do universo já preenchem meu grito interno de angústia. Ou o coração dilacerado pelo instrumental não suporta.
Fujo das lembranças!
Munidas de esperança,
que altera sílabas, 
embaralha imagens, 
distorce realidades.

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