sábado, 3 de novembro de 2012

Mão áspera

A atmosfera em que encontrava-me não condizia com a sensação de ausência que predominava em meus sentimentos: um inferno característico de quem ama e obriga-se a aprender a solidão, a contentar-se com a beleza do sonho, com o amor que paira nas esferas superiores do espírito - que corre pelo ar atravessando a distância física até o ser amado.
Em anomia carnal, busco-te inconscientemente. Claro que ao mais simples ato percebo a implacável procura, mas permito-me vivê-la para um dia, quiçá, a dor não mais perdurar: se resistir, persistirá. A inspiração artística que também nos uniu outrora, é parte minha e não posso evitar... E por vezes a criatividade pega peças incríveis e penso que no ato, eu estava desprovida de consciência para tal!
A noite que parcialmente falo fora um exemplo gritante. No tempo em que encontro-me, as taças de vinho barato não engolem minha mente e, se qualquer pessoa disser-me que possivelmente dissolveria na bebida de baco a essência de um amor terno, tatuado - ainda que por instantes- eu cruzaria as pernas e riria debochada. Então, o garoto que cruzara comigo em seu caminho fora vítima dos conflitos em demasia que sinto. Desapego-me da memória - da espécie do hábito - viva nas noites de intoxicação e volúpia. Fico a reformá-las sem revivê-las. 
Mostrara-lhe algo de mim jogando conversa fora: gravei em sua mão, que diria ser um tanto bonita, um codinome do amado - que entorpece o inconsciente! Tracei em letras garrafais o nome de uma figura semelhante fisicamente e artisticamente. E o garoto, de quem recordo o nome pelo espantoso gesto meu, teve de deixar a pele da palma da mão áspera - de tanto esfregar para livrar-se de meu rastro. 
Não há parte alguma minha para ser doada!

Nenhum comentário:

Postar um comentário