Ilustração do "The Poems of Edgar Allan Poe." |
Levantara embriagado, com seus defuntos acoplados cercando-o. Medíocres, pobres de amor e misericórdia, torturam Lia antes mesmo da visita - cotidiana - ao funeral diário de que participa, em que transporta-se para a boca das covas de véu rendado no rosto, chamuscando a expressão facial. É vulnerável em demasia, nua ao extremo, pensa:
- Conto apenas comigo mesma para atravessar a paisagem desértica que habito...
Soltam risinhos mascarados por trás das árvores. Sussurram sobre sua emoção nobre: Clemência! Clemência! Dando-a ares de pena. Pensara em vagas possibilidades de carona para deixar, ainda que por agora, aquela terra molhada retalhada em moradias subterrâneas. Mas todos os carros amigáveis estão lotados - malas ocupam o espaço. Insistira:
- Há mais conhecidos viajando e tratarão de me dar um assento.
E novamente, há muita carga... Exclama:
- O que vou fazer? Bem sei que não devo ser deixada sozinha comigo, no campo de mortos vivíssimos!
Passados alguns momentos sem conectar informação alguma, Lia dera-se conta de que a data de hoje é realmente especial e por algum motivo tropical, merece sangrar. Sente angústia intercalada com picos do sangue fervendo e náuseas de desprezo interno. Enjoo de pisotear o coração. Desejara então buscar justiça... Chegara ao cume de, covardes dessa forma, deixarem-na raivosa.
Para terminar a estadia no campo, chegara a duvidar de si:
- E se eu for completamente lunática a ponto de tornar a própria criação uma verdade? Ou serão eles, todos eles, que precisam de descanso perpétuo?
De última, Lia decidira encomendar a partitura do réquiem do músico, espreitando tal como Salieri a obra em desenvolvimento.
16/12/2012
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