Com entusiasmo, deslizara as mãos pelo garoto que, em cima de seu corpo, sufocava-a de carinhos. Arranhara suas costelas alvas. O constrangimento das portas abertas fora inevitável - sua infância havia se chocado. Resolvera de súbito ir tomar um banho, escolhera a lingerie acetinada e nem mesmo olhara para trás - rapidamente fora entorpecida pelo vapor da água quente.
Fora como cair em anestesia profunda.
Deparou-se com outros frascos de shampoo, toalhas grossas, úmidas e cercada pro azulejos cor de creme. Percebera estar na casa de seu amado - seu eterno teatro. O manto de euforia com que estava envolvida fora arrancado. Vira-se no box encardido de teto de madeira - sufocante.
Sentira ter trocado de corpo com o amado, e resolvera lavar o cabelo dourado com todos os produtos da cunhada que haviam no banheiro- e eram muitos! Tudo uma grande farsa de sua imaginação para ausentar-se da sala de estar por mais algum tempo - usando de um desejo antigo de esfregar e tornar sedosas aquelas madeixas oleosas e maltratadas.
Escutara passos no corredor seguidos das vozes de seus amigos ruivos - apressando-a com certa tensão no timbre. Lia respondera com um molhado "Estou indo", como se uma reunião festiva dependesse de sua presença para iniciar-se.
Ao girar a torneira e a água cessar, já estava enrugada e com inúmeros aromas misturados. Ficara uma hora submersa? Não sabe ao certo. O vapor então fora sugado como que com um aspirador. Despertara. Vestiu em fim a lingerie, com desprezo. Não havia rastros de ninguém no arredores do banheiro - até mesmo a a cama vazia e sem bilhete algum. Apenas seus pais, ainda conversando petrificados vendo-a semi-nua.
Disseram-lhe: "Ele se foi. Dissera ter se arrependido de estar aqui. Tu demorastes demais no banho, Lia."
Encanta!
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