Cicatrizes são marcas de guerra, de ferimentos severos e caracterizá-las como "eu sobrevivi" é deveras superficial: elas também podem significar amputações irreparáveis para as quais não há próteses - não há substituição. A vida continua desfalcada e, conviver com a perda é suscetível a mais perdas, entre elas a da sanidade.
O atingido então, questiona-se se não teria sido melhor morrer em batalha. Arrisca, por certos períodos de cólera intensa, dizer que sim e desta maneira os dias angustiantes tendem a aumentar até o colapso completo. Confusão de espaço e tempo, enjoos terríveis -quer expelir todas as lembranças que assolam sua cabeça! Não há conforto, pois como disse, não há reservas das propriedades vitais perdidas.
Muitas vezes a pessoa continua insistindo em existir, crise após crise, que intensificam-se com o passar do tempo. A cicatriz enfim, é enfermidade degenerativa, que após muitos anos decorrerem no âmbito da doença enraizada, o sentimento de perda que habita o ser por completo - físico e espiritual - é tomada também por confusão: somente sente os sintomas sem ao certo ligá-los a sua origem. São marcas que construíram sua personalidade, lotaram de pessimismo a pobre vítima que cresceu inconformada (...)
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