Toma os limites da própria percepção como fronteiras para a realidade de todos à sua volta. Mas o geral não importa-me...
Não o culpo por reparar no mundo e na maneira como desenvolvem-se as relações humanas, de maneira racional – ainda que um tanto mais espiritualizada e menos mundana. O todo segue à risca o modo obvio de encarar os fatos e quando surgem os sentimentos perdem-se em incredulidades, que nem mesmo são impostas por si mesmas. Não limito o entendimento das minhas emoções. Não relaxo, as energias passeiam em meu torno. Fervilham e disputam também o espaço físico – deixando-me trêmula, em estado de frenesi permanente.
É tão errôneo estabelecer paralelos entre o que vês e o que sinto! Falta gravíssima. As concepções de cada um são baseadas em seu eu, não podendo assim estender-se para o próximo de surpresa, como quando jogas palavras em minha direção: pouco perceptivas e minimamente interligadas como o que conheces de mim. Entretanto, como disse, não o condeno, pelo simples fato de que sou uma criatura inacreditável para todos os que resolvem observar-me, e mais: tentar conhecer-me.
Gostaria de triplicar as manhãs em que desperto límpida, sem importar-me com o dia acinzentado! Torno-me mais humana quando alegro-me com o existir por um espaço de tempo maior do que três segundos. Engana-se se pensares que busco dias assim seguidos... Eles servem como renovadores de tecido morto, e se me conheces bem, sabes a diferença mínima que a pele putrefada que cobre meu corpo faz. Porém é até importante por ser o reflexo explícito do interno...
Não escrevo hoje para acalentar-me, dar sossego ao coração. Escrevo essas linhas, pois descansei uma noite inteira sem interrupções e, portanto o cérebro recuperou-se de alguns danos de dias de insônia e anestésicos. Deixei o colchão levemente e arrancando a pele fina e morta que cobre meus lábios – com os dentes. Mas um tanto de angústia incomoda-me... De praxe. Não garanto que a suavidade estenda-se por muito mais tempo e agora partirei, para um compromisso onde se por ventura a dor agarrar-me, poderei adormecê-la com esforço físico exacerbado: ensaio de ballet.
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