Afaga o jardim com o olhar enquanto elege uma momentânea morada na grama. Atrai-se para um pedacinho verde, que como um tapete, estendido está entre as alamedas de terra embarrada. Como um jazigo disfarçado. É preciso disfarça-lo: a beleza mórbida causa estranhamento.
Lia senta, o aroma da primavera embriaga-lhe! Que doce, durante tanto tempo enclausurado nas memórias! Ao estagnar sua gôndola lá, concretiza sua estadia dupla entre o vivo e o morto, o mitológico e o real, o jasmin e o apodrecido, o exilado e o andarilho, o vácuo e o ar: corpo morto, alma errante.
"Cantem, pássaros! O dia cinza vai sendo vencido e o sol surgindo com brilho tímido. Estar desperta aqui é o sono mais sincero e revigorante oferecido à mim. Nuvens chorosas, despenquem de uma vez! Agrada-me por demais compartilhar com vocês meu estado. Quisera eu, desfazer-me com tal facilidade em água! Não percebem, que alegria seria desfazer-me? Em baixo da gôndola meu corpo reside, morto-vivo, torturando-me!" Pensa, esticando as pernas.
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