Estava indo embora, observando-te em silêncio, sabendo
que após aquele encontro meu coração já não seria mais o mesmo. Pode ser só um
sentimento ruim a menos, pois oscilo entre o entusiasmo e o sossego daquela
paisagem em que coisa nenhuma pede urgência. Fiquei presa naquele infinito;
mais nas longínquas vizinhas que não dormiam.
Somos daquelas pessoas que passam e se olham
inevitavelmente, abrindo os olhos com um doce intencionado, tentando abraçar
cada feixe de luz que do olhar escapa.
Experiências que respingam; anunciei-me tratando de
não fugir aos dias. Minha cabeça é como o artista de circo que não descobre o
equilíbrio para andar no canal enlameado. Sua o corpo, amarrota o sorriso e não
importa-se de balbuciar como criança seus lamentos de sina.
Nutro minha hera nos detalhes. Observações atrás da cavidade ocular que
conectam-se aos campos do inaudível: persigo minha verdade emocionada oculta no
frágil biombo do despertar de sensações. “A misteriosa fraqueza no rosto dos
homens”, lembro de Sartre.
Atravesse
a rua, como a senhorinha e sua bengala no meio fio, e te esperarei apedrejada
para um próximo fim. Não sei alimentar-me na ausência de inebriamento; cada
passo do garçom na madeira é uma sacolejante negação.
O bisturi
da música opera. Já cravada a anestesia, fico sabendo quanto me custará: peço
que ao menos avise Lia na sala de espera, já em desalento químico. Ela veio e
trouxe a inibição. Trouxera consigo lascas de mucosa infeccionada e penso:
amanhã doerá tanto mais!
Não saio
e não rezo: espero. Pois seguindo a escola de Vinícius, não desperdiçarei uma
gota de álcool sequer. Sobreviver a miséria… Uma labuta vinda da minha nudez,
muito lustrosa e insípida, procurando ingenuidades no alto da sapatilha
maternal onde não poderia ser menos inclusa nas maldades da vida. Nudez são as
consequências? Imagino que nunca a tenhas feito.
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