Vestindo uma camisola chapada e lilás, Lia anda sorrateira até o aposento enevoado chamado de Arquivo, o gato a segue - logo estirando-se em pose altamente sensual no meio do corredor. Em cada página que ela folheia do histórico de Álex, o ambiente é tomado por um odor indescritível e diferente - tamanha podridão que contém aquelas linhas, datadas minuciosamente.
A fumaça do incenso que traz como tocha, acaricia seu rosto com textura de pêssego branco, que, coberto de vaselina, flui desobstruindo os dutos das percepções diversas. Arrasta monólogos dramáticos que possui como manual e os encena para grandezas da natureza - como o vento noturno. Ele é sempre a melhor companhia: altamente capaz de incitar a reflexão, é a lâmina de poder natural para a reforma interna humana.
Logo tudo cai e soterra-a: avalanche de concreto branco, argamassa entrando através das tentativas de captar ar, empalhando os órgãos que imploram por água sem serem ouvidos.
O caminhão-pipa tarda a chegar. "Foi difícil encontrar o caminho" diz o motorista para ela. Irresponsável, seguira sem ao menos olhar as placas de sinalização. Precisa urgentemente de freios, algemas, cordas ou afins. Detenham-na ao pé da mesa quando for dormir!
Sempre confusa e perdida, é um prato transbordando de alimento para o acaso ser cruel. A pessoa sensata e atraente que existe dentro dela, se contorce tentando emergir de todo o lodo escuro que nas entranhas tem vida. Tão jovem, fardos tão densos!
Quando deita na cama, sua extrassensorialidade fica tinindo, e o que quer que toque com as mãos transforma-se em fruta batida com sorvete de creme e licor de cassis. Fusão milimétrica de amor e doçura malandra.
Pela manhã, acorda com a dúvida:" em que espécie de lugarejo terei passado as últimas horas? "
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