Para Lia
"O
querubim mais velho se matou
Umas
66 vezes
Depois
pediu afastamento por escusa de consciência.
Foi
enviado então o único que quis
(convites
para festas todos aceitam,
mas
depois que fazem um trabalho fogem de desespero
ou
viram sádicas crianças até caírem no vício e desaparecerem em algum pedaço de
terra)
Esse
vinha triste de nunca ter encontrado um amor para velar
E
quando chegou lá viu o tamanho do estrago:
O
outro havia abandonado eles sozinhos por muito tempo,
Cada
um definhava morrendo um dia por noite separados,
Se
alimentando do amor no ar que sopravam oceano à fora um para o outro.
Já
com a primeira flecha que o outro enviou (e que ideia a dele, veja você) a
sereia havia rasgado o corpo para poder dançar como no conto
E
ele aceitou um laço de gravidade, um anel e o azul melancólico dela como a cor
do seu coração.
Ela
cicatrizou com sua pele, seu sangue e aceitou um anzol no céu da boca.
Logo
reparou que ela não dormia nem comia direito
Ele
bebia cada vez mais
E os
dois estavam sempre largando o pó ou indo ao pronto socorro.
Ou
olhando a lua tentando fisgar o anzol ou apertar a gravidade
Suando
em sonhos
Morrendo
um dia por noite
Ao
lado de qualquer uma, qualquer droga ou um gato.
Ela
escrevia, ele compunha
Ela
dançava, ele ensaiava,
Os
dois tinham um projeto.
E a partir
daí o novo anjo começou a entender:
O
outro era um maldito esteta
E
eles são uma obra se transformando
-
rasgando aos pedaços quantas vezes for preciso
pra
ficar ir cada vez mais alto.
A
questão era como ajuda-los a partir daí
Sem
entrar em delírios de esteta também
-
olhar para as frágeis criaturinhas
(há
quanto tempo sem comer?)
Nem
esperar a arte pela arte, nem dominá-los pela arte
Talvez
apenas trocar a lâmpada de um farol
E
eles reencontrem o caminho
Depois
de beber tanta água escura
Para
esvaziar o oceano e ficar apenas deitado sob a lua,
Ficar
doente da lua,
E
esquecer o outro."
Gabriela Leal
Julho/2013
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